terça-feira, 26 de março de 2013

Dia 24

















Como todo dia acendíamos uma vela e orávamos por um prato de comida. Não sei pra vocês, mas pra gente Natal é sinônimo de dor e ódio.

Nunca nos iludimos com o merda do papai noel, ser mais hipócrita que esse, não existia, paramos de acreditar, quando percebemos que ele só dava presentes pras famílias que "tinham" um puto qualquer no bolso.

Aquele ano foi diferente, não tínhamos nos comportados muito bem, eu com meu irmão saímos para roubar todos os dias antes de dormir, já tinha se tornado habito vermos nossa mãe pedindo esmola e não fazermos nada, então resolvemos agir.

Nossa irmã de 11 anos era a única que tinha alguma esperança, pobre inocente, mal sabia ela que essa coisa de paz não existia, era pura fantasia.

Nessa véspera de Natal acordamos, rezamos, e procuramos nosso café da manhã no lixo, logo depois de comer fomos fazer o que fazíamos melhor.

O dia passou e conseguimos 350 reais e uns 3 celulares a gente estava muito feliz, dava pra comprar bastante comida e um presente pra nossa família na loja da Dona Delfina, que era a única mulher que dava algum tipo de ajuda pra nóis, pra mim e pro meu irmão não compramos nada, nossa felicidade era ver o sorriso delas, pra nossa mãe compramos o vestido que ela sempre via na lojinha da Dona Delfina e pra nossa irmãzinha, a tal sonhada boneca que abria os olhos, ela sempre pedia pra mãe.

Era dia de festa, começamos a pensar na tal magia do Natal, era engraçado, nossa mãe tinha falado que teve um sonho e que algo aconteceria, só podia ser algo bom, estava tudo dando certo aquele dia.

Triste comentário!

Minha irmã brincava com sua boneca pela rua, ela era nosso xodó, nossa alegria, fazíamos as vezes mais por ela, do que pela nossa própria velha.

Um motorista, provavelmente voltando do trampo, bêbado, atropelou nossa pequena, quando vimos aquela cena, não pensamos duas vezes, eu corri pra avisar a mãe, meu irmão correu pra socorre-lá, aproveitei pra pegar a arma que nunca tinha visto um sangue humano, nunca, não podia chamar a policia, pois eramos procurados pelos mesmos, eu só conseguia enxergar o motorista. Bum, bum, bum, puxei o gatilho, no mesmo instante ele morreu. Os coxas chegaram, minha velha chorava, se desesperava, eu fiquei paralisado, não sabia o que fazer, meu irmão correu. Achei covardia da parte dele, mas hoje entendo. Aqui na cadeia em pleno dia 24 escrevo este depoimento, sem vela, só lamentações, minha mãe, conseguiu um emprego, numa casa de família que ajuda muito ela, meu mano, continua no crime e pra mim com o vírus HIV correndo em minhas veias, só resta a morte.

Miguel Jerônimo

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